Em 2014, o Jornal O Globo[1] fez uma analogia entre os resultados da
Prova Brasil[2] e uma bola de neve:
A bola de neve começa a rolar ainda pequena, cresce conforme desce a ladeira, ganha grandes proporções ao pé da colina e estoura assim que colide com alguma barreira.
A bola seria o aluno acumulando déficit de aprendizagem na ladeira do ensino fundamental e a barreira o ensino médio. Assim, terá como resultado na ladeira abaixo do ensino fundamental, a bola de neve que é o aluno estourando na barreira do ensino médio, comprometendo todo seu futuro.
Metade de nossos estudantes têm desempenho menor que o adequado
Já no PISA[4] o dado é alarmante, quase metade de nossos estudantes têm desempenho menor que o adequado, (44,1%) está abaixo do nível de aprendizagem considerado adequado em leitura, matemática e ciências. Destes o desempenho em leitura, 50,99% estão abaixo do nível 2 e apenas 0,14% estão no nível máximo;
Isso significa que esses estudantes não conseguem reconhecer a ideia principal em um texto ou relacioná-lo com conhecimentos próprios, não conseguem interpretar dados e identificar a questão abordada em um projeto experimental simples ou interpretar fórmulas matemáticas.[5]
Nos dados divulgados, em 2012, apenas 1 em cada 1000 estudantes brasileiros atingiram o nível 6 de compreensão em leitura (o mais alto). Em Singapura, primeiro país no ranking, esse número foi de 50 em 1000. Já o nível 4, considerado razoável, apenas 5 brasileiros em mil atingiram o nível 4.
“O dado mais preocupante que encontramos foi que os 5% melhores alunos do Brasil têm desempenho igual ao de alunos medianos nos demais países avaliados. Isso considerando tanto escolas públicas quanto privadas”[6], explica Guilherme Hirata, responsável pelo Boletim IDados do Instituto Alfa e Beto.
Segundo os dados do INAF - Indicador de Analfabetismo Funcional de 2011, 50% não conseguem sequer atingir o nível básico mais baixo de habilidades de leitura.
Assim, parece que só 26% dos brasileiros, aproximadamente 1 em 4, teriam atingido um grau de alfabetização que permitiria qualificá-los como bons leitores. Isto é, leitores que leem automaticamente, sem a necessidade de decodificar[7].
Como você pode ver, a falta de desenvolvimento de habilidades de leitura tornou-se "epidemia" no Brasil.
Devemos ficar atentos pois existem estudos que comprovam quanto maior o investimento na primeira infância melhor será o desempenho cognitivo.
Estas são estatísticas chocantes e, ao mesmo tempo, não é tão chocante assim, pois, isso é o que se deve esperar de um sistema de ensino que ensina a leitura usando métodos de ensino impróprios, e eu vou compartilhar as 10 principais razões pelas quais seu filho pode estar sendo ensinado a ler do jeito errado.
1- O sistema de ensino prefere "ensinar" a leitura através de métodos de aprendizagem global, no Brasil mais conhecido como Construtivismo
Aas crianças são incentivadas a ler "por significado" e as palavras são ensinadas a serem reconhecidas globalmente como "a menor unidade do texto".
No Brasil a concepção de que "Ler é Compreender" conduziu e ainda conduz a uma pedagogia de ensino que consiste em ignorar, em recusar, tanto a explicitação do princípio alfabético, esta inclui atividades que conduzem a tomada de consciência dos fonemas, como o ensino das correspondências grafofonológicas (Morais 2014)7.
Segundo Morais[11], internacionalmente esta concepção teve como consequências maus resultados no ensino da leitura em escolas públicas, em escolas particulares os efeitos não foram tão nefastos devido o ingresso de crianças com maior desenvolvimento linguístico e que receberam explicitação em casa.
Os métodos globais ainda tem muitos adeptos no Brasil, apesar de sua proibição em países como a França. No Brasil, a história tende a se repetir e, nos cursos de formação, tanto na graduação quanto na pós-graduação, o método global ainda é enfatizado como eficaz e moderno[8].
Os métodos globais também chamado de analíticos, defendem a ideia de que a criança aprenda a partir na percepção do todo, para depois decompor o texto em suas unidades.
Prioriza-se a compreensão do texto, as palavras devem ser familiares e possuir valor efetivo para criança.[9]
Morais[11], Capovilla[12], criticam o construtivismo, segundo eles, o sistema adotado há mais 15 anos pelo Ministério da Educação (MEC) é o caminho ERRADO. A maior evidência disso é o desempenho do país nas avaliações nacionais ( SAEB, Prova Brasil, IDEB) e internacionais Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) demonstrado nos dados acima.
A) As palavras em português não devem ser ensinadas como "a menor unidade" - elas têm unidades de sons menores e individuais (os fonemas) que se combinam para formar as palavras.
B) A criança não pode ler por significado se ela não consegue ler o texto corretamente! Não vamos colocar o carro na frente dos bois.
C) É importante insistir em uma pré-escola atividades que estimulem a consciência fonológica de todas as crianças, especialmente a consciência fonêmica. Ignorar isto é proliferar e produzir maus leitores em série.
Os professores devem parar de incentivar os alunos a aprender o significado da palavra e adivinhar a leitura, e é precisamente isso que leva a problemas de leitura.
3-Os alunos são ensinados a ler, aprendendo a memorizar "palavras inteiras", e através da aprendizagem "do significado da palavra" eles desenvolvem um reconhecimento de padrão habitual de olhar para palavras como se fossem "imagens", e não entendem a mecânica de decodificação e leitura da nossa língua.
Inúmeros estudos têm demonstrado os incríveis benefícios em ajudar as crianças (e adultos) a desenvolver habilidades em consciência fonológica. Com base em um estudo abrangente, o Painel Nacional de Leitura (NRP) concluiu que o ensino da consciência fonológica melhora significativamente as habilidades de leitura e ortografia das crianças.
A consciência fonológica refere-se tanto à consciência de que a fala pode ser segmentada quanto à habilidade de manipular tais segmentos, e se desenvolve gradualmente à medida que a criança vai tomando consciência do sistema sonoro da língua, ou seja, de frases, de palavras, sílabas e fonemas como unidades identificáveis (Capovilla &Capovilla, 2000)[14].
A instrução direta da Consciência Fonológica, em uma escrita alfabética, combinada à instrução da correspondência grafema-fonema, acelera o aprendizado da leitura e da escrita de toda a sala de aula, e esse nível de consciência fonológica é o indicador individual mais forte de que a criança terá êxito no aprendizado da leitura ou ,ao contrário, a probabilidade de que não consiga ler (Adams 1990, Stanovich, 1986, BALL e BLACHMAN, 1991)[15]
Na Grã-Bretanha o ensino formal começa aos 5 anos, com o preparo para a literacia no segundo semestre do ano anterior. Se começa introdução de atividades metafonológicas.
5-Muitos estudantes têm pouco conhecimento fonética devido aos métodos que enfatizam apenas a fônica.
Embora bem intencionada, o ensino de fônica trata-se de uma abordagem que prioriza apenas "uma parte do todo", onde os alunos são ensinados a reconhecer palavras por sua "forma global".
Não há um plano de ensino de consciência fonológica de forma sistemática. Esta abordagem espera que o aluno "intuitivamente" aprenda sobre as relações de som-grafema, e ele pode até funcionar para estudantes mais brilhantes e de status socioeconômico mais elevado e estudantes com um certo nível de consciência fonológica; No entanto, este método não funcionará para leitores provenientes de lares mais desfavorecidos socialmente..
6-As crianças estão sendo ensinadas as pronúncias incorretas de sons fonéticos ou por métodos mistos.
Neste caso, ensinando o nome das letras em vez do seu fonema, veja aqui Meu Filho já Sabe o Alfabeto e Agora? - Alfabetização[16] e aqui Alfabetização: Meu filho já Sabe o nome das letras e Agora? Parte 2[17] . Ou ensinando por sílabas - Cartilha Caminho Suave[18]
A leitura será laboriosa, exigindo um grande esforço cognitivo para ler em detrimento da compreensão do que se está lendo.
Convenhamos, se a criança tiver que decorar todas as palavras do nosso vocábulo ela sofrerá uma sobrecarga cognitiva, ocorre uma leitura com dificuldade, ela até pode ler mas não compreenderá o que está lendo, devido ao esforço cognitivo para decodificar o texto.
8-Falta incentivo à leitura por parte dos pais -
Se você não lê para seu filho como esperar que se torne um bom leitor e construa um rico vocabulário que irá facilitar o aprendizado da leitura?
Ler para seu filho deve fazer parte da rotina diária da casa. A leitura partilhada[19] é muito importante para o desenvolvimento da linguagem e comunicação. As crianças devem ser orientadas a construir o hábito da leitura por meio do exemplo dos pais.
Despertar o interesse de uma criança pela leitura nos primeiros anos de vida é fundamental e não deve ser interrompido, os pais são os primeiros responsáveis em aproximar a criança da literatura infantil e por consequência, o gosto pela leitura.
As crianças tendem a imitar seus pais, por isso sempre é bom a criança flagrar você lendo, resistir a tentação de ligar a televisão ou smartphone para ler um bom livro pode despertar na criança o gosto pela leitura.
Saiba que durante a leitura partilhada mesmo que a criança não esteja prestando atenção no o que você está lendo, mas, permanecendo a sua volta, seu cérebro estará absorvendo inconscientemente o que está sendo lido, mesmo que não entenda um só palavra do que está sendo lido[20]. O fato de uma criança ouvir desde cedo narrativas recontadas ou lidas, ativa o desenvolvimento dos esquemas mentais.
Muitos professores não conhecem os conceitos básicos sobre alfabetização e não sabem como abordar as técnicas básicas de leitura.
Capovila[21] caracteriza bem esta problemática, os cursos de formação, tanto na graduação quanto na pós-graduação, o método global ainda é enfatizado como eficaz e moderno. Com isso, anualmente, as escolas ganham novos educadores, pedagogos e psicopedagogos, que continuam a aplicar e difundir uma prática ineficaz, em total contrassenso às pesquisas conduzidas na área.
E é, sobretudo, nas escolas públicas, com seu maior contingente de crianças de nível socioeconômico baixo, que esse fato é mais preocupante, pois estas crianças, muitas vezes, não possuem alternativas que possam suprir estas falhas educacionais, aumentando as desigualdades sociais. Vale lembrar que o Censo educacional de 2010 declarou que 87,3% dos estudantes brasileiros no ensino fundamental estão matriculados na rede pública de ensino[22].
10. A falta de apoio e falta de um ambiente (letrado) de alfabetização rico em casa.
Os pais realmente devem parar de confiar apenas em escolas e professores para ensinar seus filhos a ler. Educar nossos filhos é uma responsabilidade conjunta. O desenvolvimento de habilidades em alfabetização e leitura deve começar em casa, desde o berço.
Estudos demostraram[11] que ter um ambiente de apoio é um dos mais fortes preditores de linguagem infantil e desenvolvimento de habilidades iniciais de alfabetização.
Os pais precisam se tornar muito mais pró-ativo e envolvido com o desenvolvimento da alfabetização precoce de seus filhos, e o mais incrível é que, com bom conhecimento e métodos de ensino adequados, todos os pais, independentemente de sua formação ou experiência, pode ensinar seus filhos a ler.
Somos os principais responsáveis pela educação e formação de nosso filhos.
O fato de uma criança ouvir desde cedo narrativas recontadas ou lidas ativa o desenvolvimento dos esquemas mentais[23].
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[1] "Resultado da Prova Brasil mostra queda de aprendizagem ... - O Globo." 21 dez. 2014, http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/resultado-da-prova-brasil-mostra-queda-de-aprendizagem-ao-longo-do-ensino-fundamental-14888905. Acessado em 9 jan. 2017.
[2] "Aneb e Anresc (Prova Brasil) - Inep." http://inep.gov.br/web/saeb/aneb-e-anresc. Acessado em 10 jan. 2017.
[3] "Prova Brasil: por que só melhoramos nas séries iniciais? | VEJA.com." 19 set. 2016, http://veja.abril.com.br/blog/educacao-em-evidencia/prova-brasil-por-que-so-melhoramos-nas-series-iniciais/. Acessado em 9 jan. 2017.
[4] O Programme for International Student Assessment (Pisa) - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes - é uma iniciativa de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países.
O programa é desenvolvido e coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
[5] "Pisa: quase metade dos estudantes tem desempenho menor que o ...." 6 dez. 2016, http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2016-12/quase-metade-dos-brasileiros-tem-desempenho-menor-que-o-adequado-no-pisa. Acessado em 9 jan. 2017.
[6] "Por que devemos nos preocupar com o desempenho dos alunos ...." http://www.alfaebeto.org.br/blog/por-que-devemos-nos-preocupar-com-o-desempenho-dos-alunos-brasileiros-no-pisa/. Acessado em 9 jan. 2017.
[7] "Alfabetização e Democracia." 30 nov. 2016, http://metodofonico.com.br/alfabetizacao-e-democracia/. Acessado em 9 jan. 2017.
[8] Seabra AG, Capovilla FC. Problemas de leitura e escrita: como identificar, remediar e prevenir numa concepção fônica. 6ª ed. São Paulo:Memnon;2010.
[9] "Métodos de Alfabetização. Método Global x Método Fônico." 4 dez. 2015, http://metodofonico.com.br/metodos-de-alfabetizacao-1/. Acessado em 9 jan. 2017.
[10] "Métodos de alfabetização: delimitação de procedimentos e ... - PePSIC." http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862011000300011. Acessado em 9 jan. 2017.
[11] "Alfabetização e Democracia." 30 nov. 2016, http://metodofonico.com.br/alfabetizacao-e-democracia/. Acessado em 9 jan. 2017.
[12] "Método Fônico – Porque o Brasil Fracassa na Alfabetização?." 24 nov. 2015, http://metodofonico.com.br/metodo-fonico-porque-o-brasil-fracassa-na-alfabetizacao/. Acessado em 9 jan. 2017.
[13] "Stanislas Dehaene : "A neurociência deve ir para a sala de aula ...." 14 ago. 2012, http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2012/08/stanislas-dehaene-neurociencia-deve-ir-para-sala-de-aula.html. Acessado em 9 jan. 2017.
[14] Capovilla, A; Capovilla, F. (2000) Problemas de Leitura e Escrita: como identificar, previnir e remediar, numa abordagem fonológica. São Paulo, SP: Memnon.
[15] "Caracterização da linguagem receptiva e expressiva, fonologia ...." http://roo.fmrp.usp.br/teses/2014/fabiola-mishima.pdf. Acessado em 2 jan. 2017.
[16] "Método fônico: Meu Filho já Sabe o Alfabeto e Agora? - Alfabetização." 7 jul. 2016, http://metodofonico.com.br/metodo-fonico-meu-filho-ja-sabe-o-alfabeto-e-agora/. Acessado em 9 jan. 2017.
[17] "Alfabetização: Meu filho já Sabe o nome das letras e Agora? Parte 2." 7 jul. 2016, http://metodofonico.com.br/alfabetizacao-meu-filho-ja-sabe-o-nome-das-letras-e-agora-parte-2/. Acessado em 9 jan. 2017.
[18] "Cartilha Caminho Suave – Letras e Fonemas: Os sons das letras." 18 fev. 2016, http://metodofonico.com.br/cartilha-caminho-suave-letras-e-fonemas-os-sons-das-letras/. Acessado em 9 jan. 2017.
[19] "Leitura partilhada: Como Fazer de Seu Filho um Leitor - Alfabetização." 13 out. 2015, http://www.metodofonico.com.br/leitura-partilhada-como-fazer-de-seu-filho-um-leitor-3/. Acessado em 10 jan. 2017.
[20] "O que tem a ver ensinar meu filho a ler e uma Geladeira?" ago. 2018, https://metodofonico.com.br/o-que-tem-a-ver-ensinar-meu-filho-a-ler-e-uma-geladeira . Acessado em 7 ago. 2018.
[21] "Métodos de alfabetização: delimitação de procedimentos e ... - PePSIC." http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862011000300011. Acessado em 9 jan. 2017.
[22] Brasil. Resumo técnico - censo escolar 2010. Brasília:MEC, INEP; 2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=d
[23]Scliar-Cabral , L. (2012) SISTEMA SCLIAR DE ALFABETIZAÇÃO - FUNDAMENTOS. Florianópolis, SC: Lili.
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