Alfabetização e Democracia

Resenha do livro Alfabetizar para a Democracia

Deixo aqui um pequeno resumo da parte 1 deste livro, o Livro está dividido em 3 partes.

Parte 1: a opinião do autor sobre O que é alfabetizar.

No final deste artigo você encontra o título das outras partes do livro.

No Capítulo 1,  José Moraes inicia seu livro traçando um paralelo entre as definições de alfabetismo e literacia.

Em uma definição bem simples, alfabetizar é ensinar a ler e a escrever no sistema alfabético.


É alfabetizado quem sabe ler e compreender um texto simples ou escrever de maneira inteligível o que quer comunicar. Porém, na psicolinguística é alfabetizado quem é capaz de ler e escrever com autonomia.

A definição científica partilhada por muitos pesquisadores em uma definição mais específica, é a aquisição e posse de uma habilidade. Neste ponto ser alfabetizada é ter um nível mínimo de habilidade que permita ler palavras e textos  independentemente da sua familiaridade, mesmo sem compreender o que se lê, e por outro lado escrever qualquer enunciado mesmo sem conhecer o conteúdo do que escreve.
Os níveis hábeis seria aquele que corresponde a ativação automática das representações ortográficas lexicais, atingido no decurso do quarto ano e os níveis básico podem ser atingidos no fim do primeiro ano de instrução.

Literacia

Segundo Moraes, literacia é um termo utilizado em Portugal  e na Espanha  e tal como no francês littératie, adaptado do inglês literacy,  não equivale a alfabetismo por duas razões, porque se pode ser letrado, no sentido de saber ler e escrever, e analfabeto, é o caso dos que só adquire o sistema não alfabético de escrita, como o kanji (ideográfico) e os Kana(silabários) no Japão. E também porque literacia pressupõe uma utilização eficiente frequente da leitura e da escrita.


O autor faz uma comparação entre a leitura e a música, entre um leitor e o músico, segundo ele  quem aprendeu a ler e escrever, mas o faz mal ou pouco, não é letrado, tal como não é músico quem aprendeu a tocar um instrumento, mas o faço raramente com esforço.

Sendo assim, a alfabetização abre caminho para a literacia, isto é, abre caminho para a utilização das habilidades de leitura e escrita, atividades que vão além do alfabetismo, são atividades de aquisição, transmissão e, eventualmente, produção de conhecimento.

Para Moraes, a literacia vai além do nível básico do meramente Alfabetizado, de ler e escrever com autonomia, e caracterize os níveis eficientes, aqueles em que lemos e escrevemos automaticamente as palavras da língua, sem termos de construir intencionalmente e sequencialmente o seu reconhecimento. Tal como níveis básico, também os níveis hábeis podem ser avaliados de maneira rigorosa.

O autor distingue a literacia em 4 pontos – a pragmática com fins utilitários; – divertimento; – a de conhecimento, que inclui a científica , e a estética, que compreende a literária.
Estas formas de literacia confrontam-se com exigência de natureza muito diferente do ponto de vista dos processos mentais conscientes (Moraes 2014).

Letramento

Neste livro O autor também fala um pouco sobre o que é letramento, segundo ele esse termo começou a ser utilizado no final da ditadura militar, numa primeira vista parece que o termo corresponde ao mesmo que literacia explicado acima, defende os mesmos interesses, ou seja,  pelo uso prático das habilidades com alguns objetivos.


Letramento é uma maneira mais geral, pode ser entendido como a influência que a cultura escrita tem no desenvolvimento da criança, por meio da exposição frequente de textos e letras, por meio das interações verbais já marcadas pela escrita que ela tem com os outros e por meio das ações intencionais dos pais e dos professores ensinando a tornar acessível a compreensão e domínio do sistema escrito.

Nesse sentido, tal como o termo alfabetização, letramento indica um processo, ao passo que literacia evoca, sobretudo, o estado ou a função que dele resultam.


Letramento difundiu-se na comunidade linguística e educacional como uma intenção ao mesmo tempo mais engajada politicamente e mais sedutora. Ele se refere tão somente ao uso social da leitura e da escrita (Soares 1982), e não contempla, portanto, todas as atividades de leitura e de escrita que são determinadas por necessidades e fins meramente pessoais.

Como se um indivíduo, como ser letrado, não tivesse outra dimensão do que a social. Por ser mais abrangente e atendendo a vantagem de homogeneizar os conceitos, o português europeu não utiliza letramento, mas sim literacia e literacia é o termo que o autor usa nesse livro.



No Capítulo 1 o autor também descreve sobre os modelos de educação, os modelos baseados no modelo cultural, promovido pela pedagogia crítica inspirado por Paulo Freire. Fala sobre o modelo do capital humano, capital humano que se refere ao conjunto de habilidades, qualificações e experiência que influencia a produtividade e o rendimento de dividendos na economia capitalista.


O modelo das capacitações são os modelos dominantes que referem a dignidade humana, não sendo menos ideológicas, mantém a chama consoladora da resistência em nome dos valores humanistas e da sua opinião sobre esses modelos ideológicos.

Faz um breve histórico sobre o alfabeto e os fonemas, sua criação, as origens do alfabeto e bem como surgiu como alfabeto.

Desfaz o mito da superioridade do alfabeto, de que a escrita alfabética é superior ao outros tipos de escrita.

Não nascemos todos com os mesmos direito: Efeito Mateus

No capítulo 2 o autor ressalta que não nascemos todos com os mesmos direito, segundo ele o direito de adquirir e praticar a literacia é um direito frágil, depende do direito do desenvolvimento das capacidades cognitivas, que dependem do direito à saúde e do direito a frequentar uma escola de boa qualidade, os quais dependem o direito de nascer numa família que vê satisfeitos os seus próprios direitos ao trabalho e a remuneração justa. Os direito não se encontram em condições distintas, entretecem relações, e as infrações em uma ponta tem efeito em outras.

Segundo estudo citado pelo o autor do livro o status socioeconômico baixo limita o aproveitamento das potencialidades genéticas, ao contrário do status socioeconômico alto.
Segundo autor pela falta de literacia, pode-se viver pior e viver menos. O estresse crônico associado a um status socioeconômico inferior conduz ao declínio mais rápido do funcionamento fisiológico, influenciado pelo envelhecimento celular.

Estes riscos e as diferenças podem ser diminuídos por meio de uma pré-alfabetização bem feita,  a estimulação precoce pelos pais entre os 3 e os 5 anos de idade, investimento em saúde, investimentos durante a gravidez e, a melhoria das condições das Crianças, se dê desde muito cedo durante a gestação.


O autor conclui que com base nas provas disponíveis pode-se afirmar que o ambiente familiar é a variável que melhor prediz as habilidades cognitivo-linguísticas, insiste que as famílias que não cultivam as habilidades precoce, colocam desde cedo as crianças em condições desfavorecidas. E quando essas crianças são inseridas na escola o efeito do status socioeconômico é muito forte.

O nível Educacional da mãe e o rendimento familiar influenciam as habilidades de linguagem oral medidas no último ano da pré-escola, que por sua vez influencia o resultado em leitura e matemática durante o segundo ao quarto ano de escola.


O autor também fala sobre a importância de se ter pais leitores, que o hábito da leitura diária na família e a cultura de se ter uma biblioteca em casa e vários livros disponíveis no alcance da criança, que a quantidades de livros que a família tem em casa está relacionado com o sucesso no aprendizado.

Neste capítulo o autor também fala sobre o status socioeconômico e a inter-relação entre linguagem, matemática e capacidades cognitivas, como a aprendizagem da linguagem e da Matemática estão inter-relacionados, o sucesso de um depende o sucesso em outro.

Como o status socioeconômico, o meio  sócio cultural influencia na tomada de consciência fonológica avaliado na pré-escola e é muito mais avançada em crianças de status socioeconômico alto do que em crianças de status socioeconômico baixo e os reflexos desses fatores nas capacidades de leitura e escrita.

O autor ressalta que é importante, é necessário, na pré-escola, incentivar atividades que estimulem a tomada da consciência fonológica em todas as crianças, além de um programa de sensibilização e formação junto às famílias de status socioeconômico baixo, essas atividades de consciência fonológica, em especial  a consciência fonêmica, tende a diminuir as diferenças entre crianças de  status socioeconômico baixo em relação a crianças de status socioeconômico alto.


Aqui o autor faz referência sobre o efeito Mateus no desenvolvimento das habilidades da literacia, referência feita a uma parábola da bíblia a respeito dos ricos e dos pobres, os melhores progridem mais e os piores menos, de maneira que o atraso desses em relação aos melhores aumenta.

Efeito Mateus: os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, ou seja, quem vem de um meio sócio-cultural mais elevado tende a ter melhor desempenho do que os que vem status socioeconômico  baixo tende a ter menor desenvolvimento da literacia .

Como se lê e como se aprende a ler

No Capítulo 3  o autor descreve como se lê e como se aprende a ler.

Relata a definição do que é leitura, baseado em estudos científicos. Sobre o jargão “ ler é compreender” ele discorre sobre as relações pedagógicas entre os  métodos globais tais como Whole-Word aprocha, o construtivismo, o método funcional e os métodos fônicos, descreve sobre a  fala e os componentes da leitura.

Sobre o leitor hábil

Neste parágrafo o autor levanta alguns questionamentos e apresenta provas científicas.

Como se aprende a ler? Como você passa de analfabeto, alfabetizado e letrado? Quais  as condições que devem ser satisfeitas?

A primeira condição  é a compreensão do princípio alfabético, o princípio da correspondência entre fonemas e grafemas. A tomada automática  de consciência dos fonemas não é espontânea, a criança aprendiz de leitor não descobre o princípio alfabético por mera exposição ao material escrito.


O autor fala sobre o que o professor tem que saber para fazer o aluno compreender o princípio alfabético e que cada letra está associado a um ou mais de um valor fonológico.


Nesta Edição publicada em nosso país   o autor reservou um capítulo especial para o Brasil. Capítulo este que ele  chama de Alfabetizar no Brasil, relata a situação do alfabetismo e da literacia no Brasil, o analfabetismo completo e o analfabetismo funcional.

Aqui é onde entra os números, o qual me inspirou o título para esta resenha.

Segundo os dados do INAF – Indicador de Analfabetismo Funcional em 2011, além de 6% de analfabetos, 21% da população é constituída por alfabetizados rudimentares e 47% de pessoas que não foram além da alfabetização básica. Assim, parece que só 26% dos brasileiros, aproximadamente 1 em 4, teriam atingido um grau de alfabetização que permitiria qualificá-los  como bons leitores. Isto é, leitores que leem automaticamente, sem a necessidade de decodificar.

Em São Paulo, segundo os dados do Saresp – Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo, a proporção de alunos com desempenho insuficiente em língua portuguesa – por exemplo escrever sem respeitar as correspondência do nosso código ortográfico – no final do segundo e terceiro anos era, em 2011,  perto de cinco vezes maior nas escolas públicas do que nas privadas, ou seja, nas escolas do povo do que naquelas que são frequentados quase exclusivamente pelas crianças status socioeconômica elevado.

Nesse capítulo especial sobre o Brasil o autor fala também sobre o Pisa e os resultados ridículos que o Brasil obteve e vem obtendo desde a sua primeira edição, sempre na cauda do pelotão.

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa- PNAIC

O ator faz fortes críticas sobre o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa- PNAIC, o qual o Ministério da Educação – MEC chamou de “idade certa” de se alfabetizar, aos 8 anos de idade, sendo que em escolas particulares, no Brasil, muitas crianças dentro do primeiro ano dominam as funções do código ortográfico da língua e a maioria está alfabetizada no fim deste ano.

Nesse mesmo Capítulo o autor também usa um subtítulo que chamou muito minha atenção: “Ensinar a ler no Brasil: o caminho errado” – neste  o autor afirma que não há, em absoluto, idade certa ou errada para alfabetizar, mas, sem dúvida alguma, há caminhos errados e caminhos certos.

Segundo o autor por mais de uma 15 anos, o caminho adotado pelo MEC, e que já passou por vários governos e várias cores políticas, este tem se sucedido e faz parte dos caminhos errados.

Segundo o autor, os Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs adotam uma concepção da aprendizagem do ensino da língua escrita que é coerente com a doutrina anglo-saxônica chamada Whole Language, que ficou conhecido no Brasil por construtivismo e tem apoio na teoria veiculada no livro A Psicogênese da Língua escrita, de Ferreiro e Teberosky (1986). As críticas do autor sobre as teorias e o PCN usado no Brasil, o que ele chama de “A falsificação da história” pois ignora completamente o conhecimento científico que desde os anos de 1970 davam claramente outro caminho e que se consolidou nos anos de 1980 (Temos aqui mais de 30 anos de atrasos na alfabetização).

Uma outra afirmação que me chamou muita atenção, muito taxativa e que pode incomodar os ânimos mais exaltados:

“O construtivismo brasileiro na educação tornou-se possível porque ele soberbamente desprezou informações sobre o conhecimento científico.”

“Será intencional, será ignorância de que existe um vasto corpo de conhecimento sobre aprendizagem da leitura e da escrita? Porque o MEC só conhece meia dúzia de autores, e todos construtivistas, que por sua vez não conhecem mais ninguém.”

O autor explica que, essencialmente, as pesquisas construtivistas e as pesquisas da psicologia da neurociências cognitivas se diferem no ponto de vista metodológico, as primeiras utilizam a observação de comportamentos individuais guiadas por hipóteses e procuram a confirmação dessas hipóteses. A segunda utiliza sobretudo situações experimentais, perguntas, geralmente comparando grupos submetidos a tratamentos diferentes, mas que são semelhantes em relação a todas as outras variáveis que se suspeita poderem influenciar os resultados, enfim, os resultado obtido são objeto de análise estatística rigorosos e as exigências para sua publicação são muitos fortes.

Não deveriam os responsáveis pela política de alfabetização no Brasil informar-se da fonte sobre a metodologia e resultados das muitas pesquisas pertinentes para alfabetização infantil, ou , visto que elas são demasiado numerosas, reunir os mais prestigiados cientista do domínio para escutá-los? Até quando os níveis brasileiros do Pisa em leitura deverão manter-se tão baixos para que haja, enfim, uma mudança de política que leve em conta as evidências científicas?

Aprender a ler no Brasil: caminho certo

Neste o autor fala sobre o caminho certo a ser seguido e mostra o caminho para o sucesso na alfabetização, apoiado por dados científicos, mostra o caminho a ser percorrido e apresenta outros países que continuam cometendo os mesmos erros que o Brasil.


Bem, sem mais delongas paro minha resenha por aqui.

Este livro é de grande importância, todo agente envolvido em políticas públicas, em especial em educação deveria ler este livro.

Quem quiser ler mais e conhecer mais detalhes sobre esse livro acesse o link abaixo.
Livro Alfabetizar para a Democracia 

http://acesse.vc/v2/29112d91bc

É alfabetizando no espírito da Democracia, como se estivéssemos em regime democrático, que se pode contribuir pela alfabetização para construir a democracia. (José Moraes)

Sumário do Livro

Introdução

PARTE I – O que é alfabetizar

Capítulo 1. Alfabetismo e literacia

Capítulo 2. Muito aquém da alfabetização

Capítulo 3. Como se lê e como se aprende a ler

Capítulo 4. Alfabetizar no Brasil

PARTE II – O que é a democracia

Capítulo 5. Democracia e pseudodemocracia

Capítulo 6. A liberdade

Capítulo 7. A igualdade

Capítulo 8. Falsos amigos, falsas democracias

PARTE III – Criar letrados, criar democratas

Capítulo 9. Ideias sobre a educação

Capítulo 10. Perspectivas de ação

Capítulo 11. Por favor, desenha-me um futuro

Sobre o autor do livro

José Morais Doutor em ciências psicológicas pela Universidade Livre de Bruxelas (ULB), Doutor honoris causa pela Universidade de Lisboa, e Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique em razão das suas contribuições para o conhecimento, em particular no domínio da leitura e da literacia. Foi presidente do Comitê das Ciências Psicológicas da Academia Real da Bélgica e membro do Observatório Nacional da Leitura (França). Atualmente é professor emérito da ULB e permanece membro ativo do seu Centro de Pesquisa em Cognição e Cérebro (CRCN).